sexta-feira, outubro 21, 2011


F.SCOTT FITZGERALD

O Grande

GATSBY

Este clássico da literatura americano é considerado um dos cem melhores livros do sec. XX. Reli-o e apesar de inicialmente não me arrebatar, vai entranhando ao ponto de não parar a leitura. É uma novela, e é nesta qualidade que a senti, que retrata uma geração decadente e inebriada pelo sonho americano. Inicialmente não me arrebatou É uma história de excessos e a intriga resulta muito bem. Passa-se em Long Island em tempos de prosperidade americana (1920), do jazz, da proibição de álcool, da nostalgia da guerra, do início do crime organizado, do materialismo e da amoralidade. Gatsby é um milionário conhecido pelas festas animadas que dava na sua mansão, cuja história de vida está rodeada de mistério. A história é narrada pelo seu amigo Nick Carraway, um jovem comerciante de Midwest. Ele é a consciência moral e o bom senso da classe média. Daisy, uma aristocrata com dinheiro casada com Tom Buchanan, é uma antiga namorada de Gatsby e este vai fazer tudo para reencontrá-la. O jogo da vida em que vale a ociosidade e o cinismo. Nada detêm os vários personagens ociosos e cínicos que jogam a vida para escaparem à tristeza e ao tédio e Gatby vai pagar caro o erro cometido. Como traços principais da obra distinguem-se o egoísmo romântico e a importância de se viver com intensidade e com risco, sendo também um retrato da época e da própria vida do F. Scott Fitzgerald.

K

segunda-feira, outubro 10, 2011

James Joyce

Gente de Dublin

O livro que pertence à série dos autores não premiados pelo Nobel, iniciativa do jornal Público, tem dez das quinzes histórias da publicação inicial do “Dubliners” o que é uma pena, pois a beleza das palavras, a simplicidade, a ingenuidade das suas personagens fazem da sua leitura um grande prazer. E depois de ter visitado recentemente Dublin sinto-me na obrigação de dizer da obrigatoriedade de conhecer previamente os seus escritores, sendo com certeza esta reflexão válida para qualquer cidade, país ou território.

O que pontuam estas histórias escritas de forma realista e que narram a vida mais que normal dos dublinenses é a impotência das suas personagens e a inevitabilidade para contrariar as suas condições de vida, algumas vezes histórias tristes, outras comoventes em que o final acaba quase como começou, sendo certo que está afastado qualquer conteúdo moral. É uma escrita realista mas depurada e neutra afastando o leitor de sentimentalismos. Mesmo parecendo histórias politica e ideologicamente isentas, Joyce terá tido enormes dificuldades em as publicar atendendo às características obscurantistas da então sociedade. Gente de Dublin retrata a sociedade irlandesa do princípio do séc. XX, marcada pela pobreza e pelo conservadorismo. São histórias sobre a vida dura das pessoas e famílias, sobre as suas alegrias e a tristezas, as suas dores, o álcool, a hospitalidade dos irlandeses e ainda os padrões opressivos da cultura e da religião representa uma parte importante desse conservadorismo, ditando comportamentos, sendo por tal clara a sua importância e as clivagens subliminares existentes com a Inglaterra protestante percebendo-se da importância que a igreja católica tem na Irlanda, designada pelo “continente”. A dualidade de sentimentos está presente, já que apesar do amor e o sentido de coesão pela ilha há vontade de lá sair e parece uma fatalidade o desígnio de comparação com o Reino Unido.

K

segunda-feira, setembro 05, 2011


Cândido

Voltaire

Cândido ou o Optimismo, é um clássico da literatura publicado em 1759 por Voltaire e que deve ser lida à luz do espírito do iluminismo da época. É um livro muito irónico e é sempre em tom satírico, que são narradas as aventuras de um jovem simples, de raciocínio justo, uma espécie de D. Quixote, que se vai desiludindo nas aventuras que vai passando por todo o mundo, incluindo Portugal onde passa pela Inquisição e o utópico Eldourado na Américado Sul, o único lugar onde há bondade e onde a riqueza não tem qualquer importância. É nestas peripécias fantásticas por quais passa que se confronta com sucessíveis desgraças. Muitas das personagens passam pelas mais diversas torturas físicas e psíquicas e o mundo retratado é cruel e materialista. A sua amada Cunegundes e os filósofos Pangloss e Martin constituem as principais personagens, também elas desafortunadas pelas experiências terríveis por que passam. Também Cunegudes, o expoente de beleza feminina vem a ficar feia e disforme, desencantando o ingénuo Cândido. Só Cândido poderia acreditar nos ensinamentos de Pagloss de que vivíamos no melhor dos mundos possíveis.

Apesar de se poder ler sobre o lado da aventura, é um livro filosófico. Faz uma reflexão acerca do mundo, das concepções optimistas sobre o homem, da harmonia e da ordem no mundo, de que tudo corre sempre às mil maravilhas porque tudo está encadeado e acabará bem, já que há sempre uma causa para determinado efeito. É demolidor do cristianismo e dos seus representantes – a história está pejada de jesuítas, franciscanos e demais ordens religiosas. Voltaire conclui a obra com Cândido, se não rejeitando o optimismo, substituindo o mantra de Pangloss, “ tudo vai melhor no melhor dos mundos possíveis”, por um final curioso e enigmático “devemos cultivar o nosso jardim”.

Gostei muito de o ler, é muito divertido, é actual e percebi a referência paglossiana que o actual ministro das finanças fez a Sócrates e ao seu governo – tudo ia melhor no melhor dos mundos possíveis.

Kivi

sábado, agosto 20, 2011




A Ilha de Sukkan

David Vann

O apelo de livros convenientes para o Verão levaram-me a este livro, entusiasmando-me mais a incursão a fazer pelo Alasca do que o retrato psicológico da principal personagem que vai ficar isolado numa ilha inóspita com o filho de 13 anos, ou mesmo o facto de ter sido distinguido em França pelo melhor filme estrangeiro. As personagens libertas da pressão do mundo civilizado, vão testar os seus limites, não pelas necessidades de sobrevivência material que têm de suprir, mas pelos terrenos de intimidade a que ficam obrigadas, provocando uma ambiência claustrofóbica. A história vai transformando-se num pesadelo e acaba em tragédia. O pai é uma personagem egoisticamente irritante, nada está bem com ele, é pueril, chora à noite ao lado do filho lamentando-se dos erros cometidos, pelo que é difícil nos desligar-mos da sorte desta criança. Não encontrei grande significado na história, apesar de ter sabido posteriormente que foi inspirada numa tragédia pessoal do pai do autor. O que gostei mais foi a forma como foi trabalhada a natureza, mas em conclusão não ganhei muito com este livro.

terça-feira, agosto 16, 2011




LIVRO

JOSÉ LUÍS PEIXOTO

Livro foi para mim uma descoberta, é a reafirmação do talento da escrita de José Luís Peixoto. Surpreendeu-me profundamente a estrutura narrativa do romance, as histórias contadas, a caracterização terna e crua das personagens, a evolução das mesmas num período que vai dos anos 50 aos dias de hoje em que a paisagem rural dá lugar ao viver urbano com as aprendizagens vividas e sofridas no país de emigração. É um romance sobre a emigração portuguesa nos anos 60, com descrições minuciosas dos bairros de lata de lata de Champigny e Saint Denis e também da miséria do país rural que foi deixado mas jamais esquecido. Livro, título da obra, o livro que Ilídio dá à sua namorada Adelaide e o nome que esta dará mais tarde, casada em Paris com o intelectual comunista Constantino, ao filho que nasceu de um fortuito encontro com Ilídio, numa sua vinda à terra sem o marido. Adelaide, Ilídio, Cosme, Galopim, a velha Lubélia, Josué são personagens tão bem elaboradas que nos comovem por as sentirmos tão próximas e é por isso se lê de uma forma torrencial. Livro é um tributo aos homens e mulheres que emigraram, à pobreza das suas condições de vida, aos seus desejos, aos seus sonhos, aos seus encontros e desencontros, as transformações que trouxeram às aldeias. Ilustrando as mudanças sociais e políticas operadas na realidade portuguesa, é no final que percebemos quem é o narrador, pois só ele como descendente de uma geração de analfabetos ou quase analfabetos poderia escrever e chamar-se mesmo Livro. Livro é a vida de toda esta gente que povoa o livro e também o nome do filho de Adelaide e de Elídio. E como começa o romance “A mãe pousou o livro nas mãos do filho”, também assim poderá ser terminado.

Kivi


domingo, julho 24, 2011





Werther

J. W. Goethe


Werther ou os Sofrimentos do jovem Werther é uma obra-prima da literatura mundial e o expoente do movimento do romantismo na viragem do sec. XVIII para o sec. XIX, em que o universo é emergir nas mais profundas dimensões do imaginário, espelhadas pela elegante atracção pelo abismo face à intangibilidade da felicidade. Toda a visão do mundo é centrada no eu, tudo se move à volta da emoção, sendo os sentimentos mais comuns os relacionados com o êxtase e a pureza da natureza, com a tristeza, o pessimismo e a desilusão.
O livro é parcialmente autobiográfico e é epistolar. Werther narra a sua história de paixão com a jovem Carlota através de cartas dirigidas a um amigo. Carlota está comprometida e casa-se com Albert, homem cujo qual Werther adquiriu grande amizade e admiração. O convívio diário com o casal é um martírio e a paixão impossível passará a ser o centro da vida do jovem Werther que sabe que nunca a poderá ter para si. A ideia de morte como redenção constitui a pacificação dos exacerbados sentimentos de Werther e depois de um célebre beijo entre os dois e ela pedindo-lhe para que não a procure mais, ele prepara as pistolas de Albert e religiosamente mata-se. O livro terá influenciado uma onda de suicídios ocorridos na Europa.
É um clássico do romantismo que vale a pena ler, é agradável e prende a atenção até ao final.

Kivi

quinta-feira, junho 23, 2011


Richard Zimler

O último Cabalista de Lisboa

Para se conhecer o destino dos judeus portugueses à mão da Inquisição em 1506 – o massacre de Lisboa e alguns aspectos da Cabala (a filosofia mística que a partir da Provença se propagou pela diáspora judaica na Península Ibérica), este livro surge com especial relevância para nos familiarizar com esses acontecimentos terríveis que ocorreram no Rossio e que foram responsáveis pela matança de dois mil cristãos-novos na semana da Páscoa. Recupera os manuscritos históricos escondidos durante séculos com a expulsão dos judeus sefarditas e no caso concreto encontrados numa cave em Istambul, à data Constantinopla, refúgio dos judeus sefarditas acolhidos pelo sultão turco Bejadet II, que cumpriam uma ordem de expulsão decretada em primeiro lugar pelos reis católicos de Espanha e mais tarde pelo rei D. Manuel de Portugal.

A acção decorre em 1506 entre os judeus forçados, as principais personagens pertencem a uma família de cristãos-novos residente em Alfama, cujo patriarca, Abraão Zarco, é um iluminador e membro da célebre escola cabalística de Lisboa.

Apesar do livro ser mais que uma tradução, é fiel historicamente ao conteúdo dos manuscritos hebraicos deixados pelo judeu secreto Berequias – último cabalista em Lisboa, obrigado também à conversão da fé católica. Os escritos foram organizados e traduzidos por Zimmler e sua narrativa e linguagem coloquial mantém-se contemporânea, por isso são textos que para além da sua verdade histórica, poderão ser lidos com o agrado de uma boa ficção. Recomendo.

Kivi

sábado, maio 21, 2011







J. Rentes de Carvalho

Tempo Contado

Com os Holandeses


Foi por um acaso que me chegou às mãos este autor com o livro “ Com os Holandeses”. O prazer da sua leitura fez-me chegar ao seu penúltimo livro editado em Portugal - “Tempo Contado”. Rentes Carvalho parece ser pouco conhecido em Portugal, apesar de ter uma grande obra publicada na Holanda. Transmontano, de Mogadouro, passou a viver em Amesterdão desde 1956, onde foi docente de literatura portuguesa e se dedicou à escrita e lhe é francamente reconhecido o mérito literário. As suas raízes lusas e transmontanas atravessam o seu diário “ Tempo contado”. Mas se as raízes da sua existência e sensibilidade estão na aldeia, é na cidade de Amesterdão que se sente viver plenamente e é assim que a Holanda aparece como o seu país de reconhecimento e de adopção. Mas escrever não é só contar o essencial do seu dia a dia, é também o ajuste de contas de sentimentos com o passado que foi empurrado para o fundo da memória.
A sua leitura torna-se um vício, entregando-nos ao constante ruminar dos seus pensamentos, quer divague sobre a velhice, sobre as idiossincrasias holandesas, sobre a hipocrisia das obrigações literárias de que tão pouco gosta, do atraso de Portugal mas da graça e da pureza das relações quando vem de visita regular à aldeia.
“ Com os holandeses” desmonta o tão admirado sentido da tolerância do povo holandês, descrevendo o calvinismo intelectual com a falta de franqueza nas relações, que obriga este povo à uniformidade de costumes, à obrigação de adopção dos mesmos códigos para não correr o risco de ser excluído no relacionamento social. Voltaire terá sintetizado os Países Baixos venenosamente como”Canards, canaux et canailhes” Rentes de Carvalho é demolidor sobre os costumes, as manhas, os vícios, a ganância, a obsessão pela norma, a rudeza no falar e nos modos dos holandeses. Predominando o egoísmo, o que parece liberdade e respeito pelo outro não é mais que indiferença A modéstia nos hábitos, o medo de sobressair contrasta com a riqueza da cidade. O sistema associativo está de tal forma alicerçado - as associações ocupam-se de tudo (do religioso, ao politico, à educação, aos jardins, etc.), que as iniciativas individuais são vistas com medo e estorvo.
O que vale é que os holandeses não se aborreceram com estas críticas.

Kivi

terça-feira, janeiro 11, 2011






O RETRATO DE DORIAN GRAY
Oscar Wilde


Esta obra de forte cariz estético desafia a moral da época – uma Inglaterra Vitoriana, tendo Óscar Wilde explorado teatralmente os limites e se colocado como o criador do movimento - esteticismo ou dandaísmo. Mas o mais sublime no romance é o debate de ideias e de atitudes, através da experimentação do diálogo dialéctico entre as personagens num cenário condimentado pela intriga e pelo crime. É ainda um constante elogio à arte, á pintura, ao teatro e à música.
Conta a história de Dorian Gray, um jovem Adónis que serve de modelo ao pintor Basil Hallward e por quem este se apaixona e da sua relação com Lord Henry, um aristocrata cínico e hedonista que seduz Dorian para a sua visão do mundo. Priorizando a arte e a juventude como valores essenciais, tudo é permitido em nome da beleza e do hedonismo dos sentidos, não havendo lugar para doutrinas úteis, morais e realistas. Mas como beleza, que é uma forma de génio é efémera, Dorian vai dar a sua alma ao diabo. Sendo um romance de época, deliciei-me em especial com a forma adorável como as três personagens masculinas se tratam, só mesmo sendo britânicos!

Kivi