quinta-feira, outubro 11, 2007


Doris Lessing
(by Mark Gerson, 1956)
Vencedora do Nobel da Literatura 2007
"Think wrongly, if you please, but in all cases think for yourself."

segunda-feira, outubro 08, 2007



Quem Nos Faz Como Somos - J. L. Pio Abreu
É de novo a satisfação de ler um livro designadamente científico – é assim que Pio de Abreu entende e muito bem a ciência, e em que facilmente nos sentimos envolvidos. O livro é agora repartido em capítulos relativamente independentes. Não esquecer todavia de estar atento ao último capítulo. É assim que nos vai sendo descrito como somos determinados pelos nossos genes e pela cultura com um sistema alargado de representações sociais, de crenças, de signos, isto é de uma organização social essencial à nossa sobrevivência. O relato que faz das histórias de vida, naturalmente retiradas da prática clínica ilustram como as experiências vividas e sentidas passaram a condicionar o rumo tomado.
Escreve com graça e ironia, com pontos de atracção ao leitor. É uma reflexão ao nosso quotidiano, à invasão selvagem dos media, ao insólito das imagens da televisão que torna as pessoas dependentes de quem lhas fornece, enfim da irremediável cedência do espaço público ao espaço privado. As ofertas das identidades surgem como um perigo da nossa sociedade, por fanatismos míticos e tiranos, por mesmo identidades virtuais que os media transmitem aos consumidores isolados. Por tudo isso “ a labuta humana começa a ser uma luta pela identidade” (sic). Por isso a importância da aquisição de uma entidade ampla, que não abdica da informação e da crítica, nem da gestão equilibrada das diversas identidades e interesses. O homem é assim fruto de uma história civilizacional e biológica, que existe enquanto o outro existe e daí o grande espaço para a comunicação e a interação com os outros, da importância da relação presencial, do olhar nos olhos, do não deslumbramento com aquilo que os media produzem e da valorização da ligação à natureza.

E foi ontem que assisti à apresentação do livro pelo autor no fórum FNAC em Coimbra. Pio de Abreu esteve como eu esperava, pena foi que o público tenha sido pouco interventivo.

Kivi

domingo, outubro 07, 2007

Miguel Torga

Os Contos da Montanha
A Vindima

E é assim que tardiamente entro no universo de Miguel Torga e prometo que vou continuar.
Ambos os livros nos remetem para o reino maravilhoso de Trás-os-Montes, terra de Deus e dos Deuses. A vindima coloca-nos no país rural, atrasado e classista. É bom conhecer os meandros do Doiro (o Doiro de Miguel Torga) e do vinho do Porto, das jornas intensivas, da organização do trabalho, das quintas que conhecemos só em postal (a Cavadinha que reconheci em passeio no mês de Setembro), da competição e jogos sujos entre os diversos interesses económicos, dos proprietários das cidades, do povo que só lá ia buscar uns tostões, da alegria desse povo, das aldeias hoje conhecidas turisticamente como vinhateiras –Galafura, Proverende, Celeirós, S. Martinho de Anta, etc. Conhecer esta geografia hoje remete-nos à história, a uma época em que tantos portugueses emigraram por fome de pão, num duro suborreco lá se foram em demanda do Brasil (sic). Algumas contruções apalaçadas, igrejas e capelas ao estilo barroco poderão ser encontradas nestas aldeias tão arrumadas do Doiro e que são obra de emigrantes da primeira levada para o Brasil. Apesar da nossa miséria, a Miguel Torga sente a pátria como uma iman, onde dificilmente se consegue viver longe. É este mundo rural que Torga escreve exemplarmente nos Contos da Montanha, um mundo telúrico onde o homem se funde com a natureza, da solidão da natureza, são os dramas vividos com uma graça que nos espanta e que nos faz venerar este povo. Percebo agora porque Torga não tenha qualquer paciência para aturar o homem pseudo-culto e que se tenha colocado à margem das homenagens e cerimónias do homem urbano.

KIVI
John Darnton – O Pecado de Darwin

John Darnton, um jornalista vencedor de um Pulitzer que escreveu durante 39 anos para o The New York Times, aventura-se num romance que explora as diferentes facetas de Darwin, sem que entre pela vertente educativa da teoria da evolução e ficcionando a personalidade/dilemas da personagem. A história divide-se em três partes que se interligam. A primeira história consiste no diário de Darwin durante a viagem no Beagle, onde será desvendado o pecado. Ao mesmo tempo podemos acompanhar o diário da filha de Darwin (Lizzie), onde nos apercebemos da mentalidade da época, as inquietações do pai e das pistas que fazem chegar Lizzie ao pecado. Por fim, surge a narrativa principal, a história de Hugh, sendo este um investigador de Darwin que através da análise dos diários chegará também à mesma conclusão relativamente ao pecado. Para além dessa parte da investigação (a mais interessante, por sinal), surgem ainda os conflitos familiares de Hugh que pouco adensam o romance, e ainda a sua relação (não muito relevante) com outra personagem.
Trata-se de uma leitura medianamente interessante para um período de férias, sendo bastante fluida e rápida mas por vezes entediante especialmente quando surge a temática da família de Hugh. Para quem quer saber mais sobre a teoria da evolução e sobre Darwin, não será este livro que irá ajudar, uma vez que tudo gira à volta do “pecado” e o mesmo é ficcionado. Dispensava-se a parte forçada das vacas loucas e de tudo o que anda à volta do irmão do Hugh. Foi interessante rever o “Goblin Market” de Christina Rosseti (pré-rafaelistas), poema de significado para a filha de Darwin, cujo nome e dúvidas coincidem com a heroína do poema.
http://www.theotherpages.org/poems/roset01.html