terça-feira, agosto 03, 2010


VIRGÍLIO FERREIRA

Aparição

O romance é narrado pela personagem principal, Alberto Soares, que numa primeira linha narrativo temporal, encontra-se velho em um antigo casarão e revive suas memórias. Nessas lembranças, acompanhamos uma outra linha temporal em que a personagem, agora mais jovem, recém-chegado a cidade de Évora, na qualidade de professor, para dar aulas no Liceu da cidade vem a conviver com uma família burguesa.
“Aparição” é um romance autobiográfico, de inspiração existencialista, em que o homem busca a identidade de si próprio. É pois um romance reflexivo, sobre as contradições da vida humana, sobre a individualidade e a responsabilidade da existência e a busca da razão da vida na sua ligação com a morte. Alberto Soares apresenta-se como um ser em conflito, fragmentado, alguém que procura encontrar um percurso de vida face a uma determinada problemática. Alberto confere a si próprio uma faceta messiânica, detentora de uma Verdade que tentará levar aos outros, e que, por incompreensão e deturpação, vai originar o seu isolamento e a sua rejeição. ““Não procures a noite por não suportares o dia; leva para o sol a tua aparição e serás um homem” O seu percurso é marcado por uma série de encontros e desencontros consigo próprio e com os outros e também pela tragédia da morte. O termo "aparição" significa exactamente a revelação instantânea de si a si próprio. Évora representa para ele a materialização do seu conflito interior e o drama de existir. Inicia as interrogações existenciais e sem razões válidas para justificar o seu afastamento de Deus, começa a construir a sua existência a partir de si próprio - ele será o seu deus;
E da parte final destaco: “ O campo arde vastamente, como uma destruição universal…A noite avança, a minha cidade arde sempre. Vou fundar outra noutro lado. Mas não sabia eu que devia arder? Aacso será possível construir uma cidade como a imagino, a Cidade do Homem? …Mas o que sei é que o homem deve construir o seu reino, achar o seu lugar na verdade da vida, da terra, dos astros, o que sei é que a morte não deve ter razão contra a vida nem os deuses voltar a tê-la contra os homens, o que sei é que esta evidência inicial nos espera no fim de todas as conquistas para que o ciclo se feche – o ciclo, a viagem, mais perfeita.”