domingo, novembro 19, 2006


O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá - Jorge Amado


Uma lufada de boa disposição, apesar de não ser o típico conto do “…e viveram felizes para sempre.” Derreti-me. Eu confesso que sempre associei o nome de Jorge Amado a telenovelas brasileiras e por esse motivo nunca me atraiu muito a sua leitura. Li este por sorte. Adoro gatos (sim, também foi um pouco por isso que li o do Murakami) e ao passar numa livraria deparei-me com as ilustrações fantásticas deste livro. Ao desfolhá-lo não resisti a levá-lo para casa.

É uma fábula extremamente simples que atinge o extremo do hilariante e o do melancólico. Tudo começa com a história que o Vento conta à Manhã enquanto a corteja. A história do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá. As personagens são facilmente transpostas para a realidade. Todos nós conhecemos alguém que poderia ser o hipócrita Reverendo Papagaio ou a Vaca Mocha e a sua suposta superioridade por ter ascendência argentina. O Gato Malhado é um inadaptado e é com a Andorinha Sinhá que vai despertar e conhecer o Amor…impossível.

O (triste) final desta história é mais uma vez uma realidade em que os valores impostos pela “sociedade” vencem e fazem as personagens desistirem dos seus sonhos. Faz pensar. Que faríamos nós no lugar da Andorinha?

quarta-feira, novembro 08, 2006

Youth - J. M. Coetzee

Pensei muito antes de comprar este livro. Primeiro, porque já tinha lido um livro deste autor (A Vida e Tempos de Michael K.) e portanto já suspeitava que seria, no mínimo, deprimente. E segundo, por causa do tema, que de certo modo me toca pessoalmente: um jovem (sul-africano) que sonha em ir para Londres e ser poeta. E toda a sua vida até então não terá passado de uma preparação para a verdadeira vida. É claro que nada vai correr como esperado e aquilo que não passa de um sonho vago de juventude vai chocar violentamente com uma realidade que nada tem a ver com a vida idealizada.
Ou seja, John (não é fácil encontrar o nome do protagonista no livro, mas está lá) vai realmente conseguir juntar dinheiro suficiente para ir para Londres, escapando assim à época conturbada que então se vive na África do Sul (o livro passa-se nos anos 60, com a guerra fria como pano de fundo), e encontra rapidamente emprego, trabalhando como programador para uma empresa de informática. No entanto, nada é tão simples como este jovem pensava que seria: para começar, ele detesta o emprego na IBM; não consegue integrar-se na sociedade britânica e ao fim de um ano ainda não fez um único amigo digno desse nome; a sua poesia vai de mal a pior; e, nas relações passageiras com raparigas ocasionais, não há chama, nem paixão, nem amor, nem mesmo erotismo.
No fundo, mais do que a realidade, a barreira invisível contra a qual o infeliz protagonista esbarra uma e outra vez não é mais do que ele próprio, a sua própria natureza. Se fosse uma pessoa diferente, mais calorosa, mais aberta, mais capaz de enfrentar as situações, mesmo correndo o risco de falhar, então talvez tudo corresse de outra maneira. Ele sabe-o, mas, embora mantendo uma vaga esperança de que talvez amanhã, talvez outro dia, consiga reunir a energia para se “atirar para a frente”, hoje não é capaz.
Sim, eu já sabia que era um livro um bocadinho deprimente. Mas vale a pena. Coetzee, como todos os grandes escritores, conhece bem a natureza humana.