sábado, agosto 20, 2011




A Ilha de Sukkan

David Vann

O apelo de livros convenientes para o Verão levaram-me a este livro, entusiasmando-me mais a incursão a fazer pelo Alasca do que o retrato psicológico da principal personagem que vai ficar isolado numa ilha inóspita com o filho de 13 anos, ou mesmo o facto de ter sido distinguido em França pelo melhor filme estrangeiro. As personagens libertas da pressão do mundo civilizado, vão testar os seus limites, não pelas necessidades de sobrevivência material que têm de suprir, mas pelos terrenos de intimidade a que ficam obrigadas, provocando uma ambiência claustrofóbica. A história vai transformando-se num pesadelo e acaba em tragédia. O pai é uma personagem egoisticamente irritante, nada está bem com ele, é pueril, chora à noite ao lado do filho lamentando-se dos erros cometidos, pelo que é difícil nos desligar-mos da sorte desta criança. Não encontrei grande significado na história, apesar de ter sabido posteriormente que foi inspirada numa tragédia pessoal do pai do autor. O que gostei mais foi a forma como foi trabalhada a natureza, mas em conclusão não ganhei muito com este livro.

terça-feira, agosto 16, 2011




LIVRO

JOSÉ LUÍS PEIXOTO

Livro foi para mim uma descoberta, é a reafirmação do talento da escrita de José Luís Peixoto. Surpreendeu-me profundamente a estrutura narrativa do romance, as histórias contadas, a caracterização terna e crua das personagens, a evolução das mesmas num período que vai dos anos 50 aos dias de hoje em que a paisagem rural dá lugar ao viver urbano com as aprendizagens vividas e sofridas no país de emigração. É um romance sobre a emigração portuguesa nos anos 60, com descrições minuciosas dos bairros de lata de lata de Champigny e Saint Denis e também da miséria do país rural que foi deixado mas jamais esquecido. Livro, título da obra, o livro que Ilídio dá à sua namorada Adelaide e o nome que esta dará mais tarde, casada em Paris com o intelectual comunista Constantino, ao filho que nasceu de um fortuito encontro com Ilídio, numa sua vinda à terra sem o marido. Adelaide, Ilídio, Cosme, Galopim, a velha Lubélia, Josué são personagens tão bem elaboradas que nos comovem por as sentirmos tão próximas e é por isso se lê de uma forma torrencial. Livro é um tributo aos homens e mulheres que emigraram, à pobreza das suas condições de vida, aos seus desejos, aos seus sonhos, aos seus encontros e desencontros, as transformações que trouxeram às aldeias. Ilustrando as mudanças sociais e políticas operadas na realidade portuguesa, é no final que percebemos quem é o narrador, pois só ele como descendente de uma geração de analfabetos ou quase analfabetos poderia escrever e chamar-se mesmo Livro. Livro é a vida de toda esta gente que povoa o livro e também o nome do filho de Adelaide e de Elídio. E como começa o romance “A mãe pousou o livro nas mãos do filho”, também assim poderá ser terminado.

Kivi