quinta-feira, setembro 29, 2005

quarta-feira, setembro 28, 2005


“O Meu Século” – Günter Grass (Notícias Editorial)

Günter Grass ganhou o Prémio Nobel da Literatura 1999 e é conhecido pela obra "O Tambor".

“O Meu Século” narra um conjunto de eventos históricos contados por diversos protagonistas e em histórias descritas com fantasia e humor, que cronologicamente correspondem à vida de Günter Grass.
O que mais me atraiu nestas histórias foram os pontos de vista pessoais das personagens e a sua comicidade tanto na dor como no fracasso e grandiosidade, mesmo quando se fala em horrores sentidos e vividos de forma cinicamente bondosa.

Os relatos convidam-nos a conhecer a história da Alemanha, a megalomania prussiana, o absolutismo do 2º Reich e a derrocada do último imperador Kaiser Guilherme II. Apontamentos vários da rivalidade naval com o império britânico, a Deutche Gramophon com a primeira fábrica em Hannover (1907) que produz pela primeira vez discos gravados do mesmo lado, os movimentos operários, o fundador do Partido Social Democrata Liebknecht que mais tarde será assassinado, o livro “O Ser e o Tempo” do filósofo existencialista Heidegger que alinhará com as teses nazis. Depois o eclodir da II Guerra Mundial, os pintores expressionistas considerados degenerados Kischner, Techstern e Nold e o impressionista Max Lierbermann obrigado a fugir, a banalização do mal, dos campos de concentração e o ponto de vista dos que lá trabalhavam, a construção das redes de autoestrada do Reich, a juventude hitleriana, a campanha da Polónia, o fim do Carnaval de Colónia, os destroços de Dresden e a teimosia dos que ainda gritavam “Deutchland über alls!!”. Segue-se o pós guerra, a paz, o papel das mulheres dos escombros berlinenses, a Postdammer Platz - terra de ninguém, o regresso do Carnaval e a água de colónia 4711 a borrifar a multidão, o Muro de Berlim e o Checkpoint Charlie, e as histórias de mortos nos jornais, os canais de fuga entre os esgotos, um cidadão da RDA em espera frustrada por um por um Volkswagen para o qual fizera antes o programa de poupança, o regresso do exílio de Willy Brand, o grandioso projecto da Filarmónica de Berlim também chamado "navio encalhado" ou "circo de Karajan", os ódios de estimação contra os polacos pela redivisão das fronteiras, os elementos do grupo extremista Baadeer-Meinhof e o jogo patético de futebol RDA-RFA com a interrogação "qual delas é a minha Alemanha?", a Stasi (o bom marido que vigiava a mulher militante dos direitos humanos), os Trabant, os mísseis da NATO, a nuvem de Chernobyl, as interrogações de um operário de Leipzig sobre “a cidade/comunidade modelo”. E depois da queda do Muro (1989) “a muralha de protecção anti-fascista”, o capitalismo sem contrário, as empresas de armamento alemão, o consumismo, a garotada "em baixo Adidas e em cima Armani", as evocações “Saddam=Hitler”, as simpatias patéticas dos polícias em relação aos grupos de extrema direita, o Ku’damm e o movimento Tecno, a primazia da publicidade e do visual, a alucinação da Love-Parade em Berlim que no impiedoso untz untz-untz os jovens justificavam a sua presença com respostas "Porque é bestial estar aqui","Ora porque aqui posso mostrar finalmente como sou ","Isto aqui é mesmo porreiro", a Dolly, a genética e a renúncia ao sexo masculino.

Günter Grass depois deste estafanço todo, questiona o que ficou, o modelo de sociedade, a unificação, e fá-lo através da última história, contada pela falecida mãe. É a malograda sociedade neo-liberal...
Post redigido por Quibitz

sexta-feira, setembro 23, 2005


"O Vendedor de Passados" - José Eduardo Agualusa (Dom Quixote)

«Desculpe a pergunta, mas posso saber o seu nome?»
«Não tenho nome», respondi, e estava a ser sincero, «sou uma osga.»
«Isso é ridículo. Ninguém é uma osga!»
«Tem razão. Ninguém é uma osga. E você - chama-se de facto Félix Ventura?»

Esta é a história de Félix Ventura, um albino que inventa passados para quem já tem o futuro pensado. O narrador é uma osga voyeur, que noutra vida foi pessoa. O livro joga com a manipulação de memórias e de como elas nos podem perseguir muito depois de já estarem apagadas. O plano onírico é misturado com o plano real, para que as personagens tenham possibilidade de fugir à realidade da sociedade angolana.
"O Vendedor de Passados" lê-se muito rapidamente, sendo escrito com uma linguagem fácil, muito poética e ao mesmo tempo realista. É um bom livro para ler quando não se tem grande paciência para grandes filosofias e para quando se está farto de histórias mirabolantes. É uma leve brisa Outonal.
"A memória é uma paisagem contemplada de um comboio em movimento. Vemos crescer por sobre as acácias a luz da madrugada, as aves debicando a manhã, como a um fruto. Vemos, além, um rio sereno e o arvoredo que o abraça. Vemos o gado passando lento, um casal que corre de mão dadas, meninos dançando o futebol, a bola brilhando ao sol (um outro sol). Vemos os lagos plácidos onde nadam os patos, os rios de águas pesadas onde os elefantes matam a sede. São coisas que ocorrem diante os nossos olhos, sabemos que são reais, mas estão demasiado longe, não as podemos tocar. Algumas estão já tão longe, e o comboio avança tão veloz, que não temos a certeza de que realmente aconteceram. Talvez as tenhamos sonhado. Já me falha a memória, dizemos, e foi apenas o céu que escureceu. É isso o que sinto quando penso na minha anterior encarnação. Lembro-me de factos soltos, incoerentes, fragmentos de um vasto sonho."

segunda-feira, setembro 19, 2005

MoMA Highlights - 350 Obras do Museum of Modern Art New York - Público

Ultimamente tenho andado viciada no MoMA Highligts, que vai morar na minha mesinha cabeceira durante uns tempos sem ter de pagar renda. Trata-se duma compilação das principais obras que passaram pelo MoMA (realizadas a partir de 1880) com as respectivas ilustrações e descomplicadas explicações. Ou seja, é uma boa alternativa para quem compra os livros da Tachen e depois apercebe-se que não tem paciência nem memória funcional para os estudar.
Assim pude relembrar a chávena de café peluda de Oppenheim, as verdades evidentes de Jenny Holzer (http://mfx.dasburo.com/art/truisms/), o azul inventado de Klein, os relógios moles de Dali, o gato pensante de Klee, a escultura que aparece nas moedas de 20 cêntimos italianas de Boccioni, as cores de Kandinski, as estrelas de Van Gogh, a angústia de Munch,..., e muitas outras referências da arte moderna (fotografia, filmes, instalações) que aguçam o apetite e relembram a impossibilidade de apreciar algo sem primeiro entender seu significado.
Aconselho vivamente a quem gosta de arte e também a quem não gosta. Este é um daqueles livros que me faz sentir ignorante.
http://www.moma.org/ (site do museu - apesar das imagens em net não terem grande piada, o ideal seria arranjar uma teletransportadora para ver as obras ao vivo - muito caro)
The Sleeping Gypsy - Rosseau - Como um músico, a cigana neste quadro é uma artista; como uma viajante não tem um sítio social definido. Perdida no sonho profundo de quem sonha, está perigosamente vulnerável - no entanto o leão está calmo e fascinado. A "Cigana Adormecida" é formalmente exigente - os seus contornos são precisos, a sua cor cristalina, as linas, superfícies e acentos cuidadosamente rimados. Rosseau joga delicadamente com a luz do corpo do leão. Uma carta sua descreve o tema do quadro: "Uma negra à deriva, uma tocadora de bandolim, está deitada com o seu vaso ao lado (um vaso com água para beber) vencida pela fadiga num sono profundo. Um leão por acaso passa por ali, sente o seu cheiro mas não a devora. Há uma atmosfera de luar, muito poético. A cena é construída num deserto completamente árido. A cigana está vestida com um traje oriental". Como douanier (porteiro) da cidade de Paris, Rosseau foi um pintor autodidacta, cujo trabalho aparentou ser pouco sofisticado para muita da sua assistência. No entanto, muitos aspectos do seu trabalho têm ecos modernistas: as figuras e perspectivas achatadas, a liberdade de cor e estilo, a subordinação da descrição realista à imaginação e invenção. Como consequência, críticos e artistas admiraram Rosseau antes do público em geral.