quarta-feira, setembro 28, 2005


“O Meu Século” – Günter Grass (Notícias Editorial)

Günter Grass ganhou o Prémio Nobel da Literatura 1999 e é conhecido pela obra "O Tambor".

“O Meu Século” narra um conjunto de eventos históricos contados por diversos protagonistas e em histórias descritas com fantasia e humor, que cronologicamente correspondem à vida de Günter Grass.
O que mais me atraiu nestas histórias foram os pontos de vista pessoais das personagens e a sua comicidade tanto na dor como no fracasso e grandiosidade, mesmo quando se fala em horrores sentidos e vividos de forma cinicamente bondosa.

Os relatos convidam-nos a conhecer a história da Alemanha, a megalomania prussiana, o absolutismo do 2º Reich e a derrocada do último imperador Kaiser Guilherme II. Apontamentos vários da rivalidade naval com o império britânico, a Deutche Gramophon com a primeira fábrica em Hannover (1907) que produz pela primeira vez discos gravados do mesmo lado, os movimentos operários, o fundador do Partido Social Democrata Liebknecht que mais tarde será assassinado, o livro “O Ser e o Tempo” do filósofo existencialista Heidegger que alinhará com as teses nazis. Depois o eclodir da II Guerra Mundial, os pintores expressionistas considerados degenerados Kischner, Techstern e Nold e o impressionista Max Lierbermann obrigado a fugir, a banalização do mal, dos campos de concentração e o ponto de vista dos que lá trabalhavam, a construção das redes de autoestrada do Reich, a juventude hitleriana, a campanha da Polónia, o fim do Carnaval de Colónia, os destroços de Dresden e a teimosia dos que ainda gritavam “Deutchland über alls!!”. Segue-se o pós guerra, a paz, o papel das mulheres dos escombros berlinenses, a Postdammer Platz - terra de ninguém, o regresso do Carnaval e a água de colónia 4711 a borrifar a multidão, o Muro de Berlim e o Checkpoint Charlie, e as histórias de mortos nos jornais, os canais de fuga entre os esgotos, um cidadão da RDA em espera frustrada por um por um Volkswagen para o qual fizera antes o programa de poupança, o regresso do exílio de Willy Brand, o grandioso projecto da Filarmónica de Berlim também chamado "navio encalhado" ou "circo de Karajan", os ódios de estimação contra os polacos pela redivisão das fronteiras, os elementos do grupo extremista Baadeer-Meinhof e o jogo patético de futebol RDA-RFA com a interrogação "qual delas é a minha Alemanha?", a Stasi (o bom marido que vigiava a mulher militante dos direitos humanos), os Trabant, os mísseis da NATO, a nuvem de Chernobyl, as interrogações de um operário de Leipzig sobre “a cidade/comunidade modelo”. E depois da queda do Muro (1989) “a muralha de protecção anti-fascista”, o capitalismo sem contrário, as empresas de armamento alemão, o consumismo, a garotada "em baixo Adidas e em cima Armani", as evocações “Saddam=Hitler”, as simpatias patéticas dos polícias em relação aos grupos de extrema direita, o Ku’damm e o movimento Tecno, a primazia da publicidade e do visual, a alucinação da Love-Parade em Berlim que no impiedoso untz untz-untz os jovens justificavam a sua presença com respostas "Porque é bestial estar aqui","Ora porque aqui posso mostrar finalmente como sou ","Isto aqui é mesmo porreiro", a Dolly, a genética e a renúncia ao sexo masculino.

Günter Grass depois deste estafanço todo, questiona o que ficou, o modelo de sociedade, a unificação, e fá-lo através da última história, contada pela falecida mãe. É a malograda sociedade neo-liberal...
Post redigido por Quibitz

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