domingo, abril 30, 2006

Jane Austen - Pride and Prejudice - Oxford University Press

"I might as well enquire, why with so evident a design of offending and insulting me, you chose to tell me that you liked me against your will, against your reason, and even against your character? Was not this some excuse for incivility, if I was uncivil? But I have other provocations. You know I have. Had not my own feelings decided against you, had they been indifferent, or had they even been favourable, do you think that any consideration would tempt me to accept the man, who has been the means of ruining, perhaps for ever, the happiness of a most beloved sister?" (em resposta a pedido de casamento)
"She is tolerable, but not handsome enough to tempt me." (quando Mr Darcy vê pela primeira vez Elizabeth)
"Miss Bennet, I insist on being satisfied!" (Lady Catherine a pedir a Elizabeth para não aceitar qualquer proposta de Mr. Darcy)
Continuando a minha formação em inglês, resolvi experimentar Jane Austen e qual foi o meu espanto em constatar que não é nada difícil de ler. Existem de facto algumas palavras cujo significado é completamente diferente, como "consequence" (importância), "make love" (é praticamente jogar cartas), para além de muitas palavras a que estamos habituados a ver como apenas uma se escreverem como duas ("for ever"). Claro que muitas expressões passam ao lado de quem não seja um "expert" em literatura inglesa. Por exemplo, quem é que iria adivinhar que "come upon the town" é tornar-se prostituta, pelos vistos um destino muito provável para as rapariguinhas que não se dão com os pais? Dá para ter uma ideia da complexidade deste romance por:

http://www.pemberley.com/janeinfo/pridprej.html#pride

Desenganem-se se acham que daqui vai sair uma história inocente. Não é lamechas nem cor-de-rosa, a não ser que se considere tudo o que seja referente ao estilo de vida de 1813 como cor-de-rosa (o que não é), tal a diferença de prioridades que existe em relação aos dias de hoje (não é que actualmente também não existam pessoas fúteis). É fácil entender o tipo de enredo que poderá provir deste livro. A mãe chata cujo maior objectivo da vida é desencalhar as filhas, as filhas que anseiam pelo golpe do baú, a desconfiança em relação aos que não se sabem comportar em sociedade ou daqueles "que têm a mania" ou ainda que são espalhafatosos, a vergonha em relação à família por comportamentos que até são previsíveis (hoje em dia toleráveis), etc. Mas não é o enredo que interessa na escrita de Jane Austen, é a qualidade na construção das personagens com todos os seus defeitos e virtudes numa época em que para se dizer uma frase em público é necessário pensar em todas as consequências que dessa frase poderão provir. É muito interessante verificar a mudança das personagens principais, Mr Darcy (Orgulho) e Elizabeth Bennet (Preconceito). Estas personagens descobrem como os seus defeitos as impedem de obter felicidade e dão a volta ao enredo sem nunca deixarem de ser elas próprias, ou seja, o leitor é induzido a pensar de um modo até descobrir que afinal não sabe interpretar carácteres. As pessoas são complicadas em todas as épocas, em contextos diferentes. Porque afinal o orgulho e preconceito até nem existiam assim tanto como isso.

Muito interessante (demora um bocadinho a ler, 300 páginas, mas o interesse vai crescendo, uma vez que a principio acontecem poucas coisas). Agora só falta ver o filme.



Abriu a FNAC em Coimbra!!!!!!!!!

Finalmente, uma Fnac a menos de 200 km de casa!

Oba Oba!!!

: ))

quarta-feira, abril 19, 2006


Runaway - Alice Munro

"Read Munro! Read Munro!"
Jonathan Franzen

Segundo Jonathan Franzen, cuja crítica no The New York Times Book Review aparece como introdução ao último livro de Alice Munro, é extremamente difícil criticar livros de contos, porque um pequeno resumo pode estragar por completo o prazer da leitura, e os desta escritora canadiana (que só escreve contos) são particularmente difíceis de criticar, uma vez que não falam sobre "temas", mas apenas sobre pessoas.

Sendo assim, vou-me limitar a dizer que Runaway me surpreendeu pela positiva (dado que não conhecia a autora). São 8 contos, alguns deles interligados, sobre pessoas muito diferentes, embora as protagonistas sejam invariavelmente mulheres. Em todos eles há um tema recorrente de fuga (daí o título), mas nem sempre é esse o aspecto mais importante.

Espreitando a vida destes personagens extraordinariamente credíveis, complexos e ambíguos (como os verdadeiros seres humanos), Munro capta habilmente as peculiaridades da existência de cada pessoa e simultaneamente a universalidade das suas angústias, revelando a enorme distância que vai entre o que as coisas são e o que nós gostaríamos que elas fossem.

Infelizmente por cá não se editam muitos livros de contos (ultimamente já se vão editando alguns), mas seria interessante que os leitores portugueses pudessem descobrir que há mais escritores canadianos para além da Margaret Atwood. Por enquanto, a escrita subtil de Alice Munro apenas está disponível em inglês (na FNAC, para variar).