terça-feira, outubro 24, 2006

O milagre do equilíbrio – Lucía Extebarria – Dom Quixote (Prémio Planeta)

O livro gira à volta de um nascimento de uma filha e da morte de uma mãe. Eva Agulló é escritora madrilena e escreve uma longa carta à sua filha recém-nascida, Amanda, para que esta possa ter acesso à sua mãe de uma forma que Eva nunca conseguiu com a sua. Ao longo do livro, Eva descobre-se e procura entender os motivos dos seus fracassos e das suas escolhas, através de uma série de perguntas que se coloca e que acaba por descobrir a chave.
O que significa realmente ser mãe? Onde acabam os mitos da maternidade e começa a realidade? Qual o desajuste entre os problemas que a maternidade levanta e o que impõem os livros pedagógicos, para além do que é aceite socialmente para uma mãe sentir?
Como influencia a sua vida a culpa em relação à infelicidade dos pais? Qual a relação do alívio provocado pelo álcool, pela escrita e pelos momentos amorosos com o medo de se envolver emocionalmente e com a sua auto-estima?
O que significa a imagem que Eva representa para os outros (fisicamente e psicologicamente) na sua própria personalidade?
O que é necessário para que a sua escrita resulte?
O livro é muito interessante e emotivo não tanto pela história (podia ser a história de qualquer mulher) mas pela análise dos seus detalhes e pela evolução da personagem de Eva, fazendo-nos duvidar que exista uma escritora por detrás de uma carta tão verosímil.
Essencial para todas as mulheres, muito bem escrito, mas tradução com alguns erros.

segunda-feira, outubro 23, 2006


V for Vendetta – Alan Moore - BD

Adaptado recentemente para o cinema, embora sem o apoio de Alan Moore devido ao desvio da história original, “V for Vendetta” mostra-nos uma Londres amnésica do seu passado que renuncia à liberdade como forma de sobrevivência de um pós-guerra avassalador. A personagem principal, que opta por representar a teatralidade como uma metáfora a tudo aquilo que a sociedade esqueceu, tem a inteligência, a capacidade e os meios que lhe permitem controlar e saber tudo o que se passa em Londres, vivendo num esconderijo que mais parece um memorial representativo de tudo o que já existiu e que as pessoas se esqueceram, como as rosas, a música, a arte e os quadros. Do outro lado conhecemos os líderes da cidade que se baseiam num sistema “big brother” com recurso à violência e eliminação de minorias e de indivíduos que tenham o atrevimento de tentar pensar (muito ao género de Orwell). V tenta tirar as pessoas da apatia e vingar-se do que anteriormente lhe fizeram, utilizando para isso a violência e a destruição. Quando conhece Evey, de 16 anos, abre-lhe os horizontes para que entenda que a sua ambição de conseguir uma vida normal seja arrasada pela impossibilidade de respirar numa cidade onde a liberdade não existe. V não tem nenhum discurso em que usa todas palavras começadas por V, antes fala por metáforas de referências literárias. As personagens secundárias a V são muito exploradas (ao contrário do filme, em que nem sequer é V que mata o chefão) e as suas atitudes desesperadas encaixam-se com o clima sombrio de toda a história.
Uma BD de culto.