domingo, outubro 07, 2007

Miguel Torga

Os Contos da Montanha
A Vindima

E é assim que tardiamente entro no universo de Miguel Torga e prometo que vou continuar.
Ambos os livros nos remetem para o reino maravilhoso de Trás-os-Montes, terra de Deus e dos Deuses. A vindima coloca-nos no país rural, atrasado e classista. É bom conhecer os meandros do Doiro (o Doiro de Miguel Torga) e do vinho do Porto, das jornas intensivas, da organização do trabalho, das quintas que conhecemos só em postal (a Cavadinha que reconheci em passeio no mês de Setembro), da competição e jogos sujos entre os diversos interesses económicos, dos proprietários das cidades, do povo que só lá ia buscar uns tostões, da alegria desse povo, das aldeias hoje conhecidas turisticamente como vinhateiras –Galafura, Proverende, Celeirós, S. Martinho de Anta, etc. Conhecer esta geografia hoje remete-nos à história, a uma época em que tantos portugueses emigraram por fome de pão, num duro suborreco lá se foram em demanda do Brasil (sic). Algumas contruções apalaçadas, igrejas e capelas ao estilo barroco poderão ser encontradas nestas aldeias tão arrumadas do Doiro e que são obra de emigrantes da primeira levada para o Brasil. Apesar da nossa miséria, a Miguel Torga sente a pátria como uma iman, onde dificilmente se consegue viver longe. É este mundo rural que Torga escreve exemplarmente nos Contos da Montanha, um mundo telúrico onde o homem se funde com a natureza, da solidão da natureza, são os dramas vividos com uma graça que nos espanta e que nos faz venerar este povo. Percebo agora porque Torga não tenha qualquer paciência para aturar o homem pseudo-culto e que se tenha colocado à margem das homenagens e cerimónias do homem urbano.

KIVI

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