segunda-feira, outubro 10, 2011

James Joyce

Gente de Dublin

O livro que pertence à série dos autores não premiados pelo Nobel, iniciativa do jornal Público, tem dez das quinzes histórias da publicação inicial do “Dubliners” o que é uma pena, pois a beleza das palavras, a simplicidade, a ingenuidade das suas personagens fazem da sua leitura um grande prazer. E depois de ter visitado recentemente Dublin sinto-me na obrigação de dizer da obrigatoriedade de conhecer previamente os seus escritores, sendo com certeza esta reflexão válida para qualquer cidade, país ou território.

O que pontuam estas histórias escritas de forma realista e que narram a vida mais que normal dos dublinenses é a impotência das suas personagens e a inevitabilidade para contrariar as suas condições de vida, algumas vezes histórias tristes, outras comoventes em que o final acaba quase como começou, sendo certo que está afastado qualquer conteúdo moral. É uma escrita realista mas depurada e neutra afastando o leitor de sentimentalismos. Mesmo parecendo histórias politica e ideologicamente isentas, Joyce terá tido enormes dificuldades em as publicar atendendo às características obscurantistas da então sociedade. Gente de Dublin retrata a sociedade irlandesa do princípio do séc. XX, marcada pela pobreza e pelo conservadorismo. São histórias sobre a vida dura das pessoas e famílias, sobre as suas alegrias e a tristezas, as suas dores, o álcool, a hospitalidade dos irlandeses e ainda os padrões opressivos da cultura e da religião representa uma parte importante desse conservadorismo, ditando comportamentos, sendo por tal clara a sua importância e as clivagens subliminares existentes com a Inglaterra protestante percebendo-se da importância que a igreja católica tem na Irlanda, designada pelo “continente”. A dualidade de sentimentos está presente, já que apesar do amor e o sentido de coesão pela ilha há vontade de lá sair e parece uma fatalidade o desígnio de comparação com o Reino Unido.

K

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