sábado, maio 21, 2011







J. Rentes de Carvalho

Tempo Contado

Com os Holandeses


Foi por um acaso que me chegou às mãos este autor com o livro “ Com os Holandeses”. O prazer da sua leitura fez-me chegar ao seu penúltimo livro editado em Portugal - “Tempo Contado”. Rentes Carvalho parece ser pouco conhecido em Portugal, apesar de ter uma grande obra publicada na Holanda. Transmontano, de Mogadouro, passou a viver em Amesterdão desde 1956, onde foi docente de literatura portuguesa e se dedicou à escrita e lhe é francamente reconhecido o mérito literário. As suas raízes lusas e transmontanas atravessam o seu diário “ Tempo contado”. Mas se as raízes da sua existência e sensibilidade estão na aldeia, é na cidade de Amesterdão que se sente viver plenamente e é assim que a Holanda aparece como o seu país de reconhecimento e de adopção. Mas escrever não é só contar o essencial do seu dia a dia, é também o ajuste de contas de sentimentos com o passado que foi empurrado para o fundo da memória.
A sua leitura torna-se um vício, entregando-nos ao constante ruminar dos seus pensamentos, quer divague sobre a velhice, sobre as idiossincrasias holandesas, sobre a hipocrisia das obrigações literárias de que tão pouco gosta, do atraso de Portugal mas da graça e da pureza das relações quando vem de visita regular à aldeia.
“ Com os holandeses” desmonta o tão admirado sentido da tolerância do povo holandês, descrevendo o calvinismo intelectual com a falta de franqueza nas relações, que obriga este povo à uniformidade de costumes, à obrigação de adopção dos mesmos códigos para não correr o risco de ser excluído no relacionamento social. Voltaire terá sintetizado os Países Baixos venenosamente como”Canards, canaux et canailhes” Rentes de Carvalho é demolidor sobre os costumes, as manhas, os vícios, a ganância, a obsessão pela norma, a rudeza no falar e nos modos dos holandeses. Predominando o egoísmo, o que parece liberdade e respeito pelo outro não é mais que indiferença A modéstia nos hábitos, o medo de sobressair contrasta com a riqueza da cidade. O sistema associativo está de tal forma alicerçado - as associações ocupam-se de tudo (do religioso, ao politico, à educação, aos jardins, etc.), que as iniciativas individuais são vistas com medo e estorvo.
O que vale é que os holandeses não se aborreceram com estas críticas.

Kivi

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