segunda-feira, agosto 17, 2009

A Saga Twilight de Stephenie Meyer - um caso de sucesso de vampiros civilizados que não dormem em caixões

Sim, devorei a saga twilight, que é constituída por quatro livros: “Twilight” (“Crepúsculo”), “New moon” (“Lua nova”), “Eclipse” e “Breaking down” (“Amanhecer”). Nas versões de capa dura isto dá 544+608+640+768 páginas!
Porque é que esta saga teve tanto sucesso?
Primeiro tem os ingredientes certos:
- vampiros (pela sugestão que vai acontecer alguma coisa de excitante);
- adolescente infeliz e anti-social apaixonada por um amor teoricamente impossível (alguns fãs equiparam a saga a “Romeu e Julieta”);
- vampiro jeitoso e personificação do “namorado que todas queriam ter”;
- vampiros maus que não descansam enquanto não matarem a heroína indefesa;
- lobisomens feios que não gostam de vampiros mas que gostam muito de quem os vampiros gostam;
- tipo de escrita viciante (faz lembrar a saga Harry Potter).

O número de páginas dedicadas à acção e confronto entre vampiros é muito reduzido em toda a saga. O mais característico da escrita de Stephenie Meyer é a insegurança das personagens do tipo “será que o vou ver hoje?” e “o que será que ele está a pensar?”
Porque é que me dei ao trabalho de ler esta saga? A saga é de leitura muito fácil especialmente para quem quer ler em inglês. O vocabulário é do mais básico que há, ao contrário do Harry Potter que é bastante mais descritivo e elaborado. Acaba por ser a leitura ideal quando não temos capacidade para ler nada de complicado, sendo absorvente o suficiente para nos fazer viajar para outro mundo. Serve muito bem a função de livro para ler no aeroporto, na praia ou quando ao fim do dia de trabalho estamos tão cansados que não conseguimos ler nada de complicado. No fundo pode dizer-se que sabe bem e é altamente viciante. A escrita é muito honesta e a história é muito simples (mas não previsível). A personagem principal Bella Swan é uma sofredora nata em todos os sentidos e durante 4 livros acompanhamos a sua evolução de forma muito íntima sem às vezes concordarmos com ela (tememos pelas suas decisões). O vampiro principal (Edward) tem a capacidade de ouvir os pensamentos de toda a gente à excepção de Bella Swan, e sendo muito cauteloso temos dificuldade em compreendê-lo e confiar nele (“too good to be true”). Stephenie Meyer tentou combater esse lapso começando a escrever a versão “Twilight” do ponto de vista do vampiro Edward. Porém, o rascunho foi publicado na Internet sem a sua autorização levando a autora a desistir do projecto para infelicidade dos fãs (“Midnight Sun” partial draft é agora disponibilizado no site oficial da autora). O rascunho foi altamente criticado porque os fãs não se tinham dado conta da obsessão do vampiro por Bella.
O primeiro livro é o mais interessante porque é a descoberta mútua das personagens principais. Os seguintes acabam por ser continuações com a introdução de novos elementos (como os lobisomens). O último livro “Breaking Down” foi uma decepção para os fãs de Meyer, que ao apropriarem-se das personagens não gostaram das decisões que estas tomaram e não aceitaram a liberdade da escritora de enveredar por outros caminhos. O livro foi tão atacado e a escritora tão desacreditada numa escala aparentemente ridícula para quem ambiciona apenas escrever uma novela de vampiros sem funções sociais. Foi acusada de incitar a pedofilia e as posições anti-aborto! Confesso que o último livro me entediou um bocado pela falta de ritmo e por haver 300 páginas sem qualquer acção. O rumo que a autora escolheu para o último livro é perfeitamente aceitável para o género novelesco mas os fãs não a perdoaram, querendo apenas mais uma história dos perigos inerentes a uma relação humano-vampiro. Concordo que o último livro poderia ser mais interessante, mas se formos a pensar nisso, toda a saga poderia ser mais interessante se tivesse outra autora, outras personagens e outro argumento, como todos os livros do mundo!! Stephenie Meyer não quis fazer do 4º livro mais do mesmo e apeteceu-lhe jogar com as possibilidades. É interessante ver como nesta saga os fãs tentaram manipular a autora ao máximo e como ficaram tão desiludidos com Bella Swan (que queriam que fosse previsível do princípio ao fim).
Recomendo a saga para aquelas alturas em temos a necessidade de ler alguma coisa light e viciante, e que saibamos que não teremos aquele sentimento incomodativo de culpa por perder umas tantas horas com literatura de “passar tempo”.

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