domingo, agosto 16, 2009


Diego e Frida

J.M.G LeClésio


Foi sem grande entusiasmo que me esforcei para ler este livro, fazendo-o num exercício de disciplina e de alguma obrigação já que me tinha sido emprestado. É que em boa verdade já conhecia as suas histórias de vida ou julgava conhecer. Mas valeu a leitura.
O que me ficou deste romance biográfico, foi o amor recíproco e incondicional deste casal, mesmo quando atravessado de tantos reveses e de separações físicas. Assume-se ainda o amor pelos índios, pela civilização pré – espânica, plasmado numa história de resistência de ambos os artistas contra a globalização e mesmo contra os USA. Clésio identifica-se com a vida dos dois pintores, já que a sua humilde vida literária tem sido dedicada à expressão da luta dos povos oprimidos. Em Frida é a procura integral física e mental da integridade dos oprimidos, da sede da verdade e da libertação da alienação do povo. O compromisso político de Frida e de Diego estão presentes ao longo da vida , apesar das grandes contradições e das posições polémicas de Diego (recorde-se que trabalhou e admirou o industrial de Detroit – Henry Ford). Não renegou essa admiração por esse império industrial e descrevia as oficinas como uma sinfonia para os seus ouvidos.É em Tehuantepec que Diego foi buscar as imagens fortes, as paisagens do éden, as mulheres de cabeleiras cor de ébano. Frida vai seguir o modelo das mulheres de Tehuana, veste-se, penteia-se e fala como elas.
Diego é o ogre (assim o designava Frida), a sua revolução é individualista, oscila entre a fé nos E.U e a União Soviética. Ele é colérico, violento na crítica, o monstro sedutor, oscila entre a acção e a crítica, a aventura, o poder e o dinheiro. Ela é a simplicidade, a determinação, a solidão, o amor abnegado. No seu diário escreve:
Diego, começo
Diego, construtor
Diego, minha criança
Diego, meu noivo
Diego, pintor
Diego, meu amante
Diego, meu marido
Diego, minha mãe
Diego, meu pai
Diego, meu filho
eu
universo
Diversidade na unidade
Mas porque eu digo Meu Diego
Ele nunca será meu. Ele só pertence a si próprio"

Kivi

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