quarta-feira, setembro 03, 2008



Rosa Lobato de Faria
O Prenúncio das águas

Associando a escritora ao mundo das novelas da televisão e canções para a Eurovisão e outras coisas menos interessantes (se assim quisermos falar), como ter sido a autora do hino do CDS, foi uma verdadeira surpresa a leitura deste livro, que me tendo sido aconselhado só o li por dever a cumprir e por alguma expectativa de que a conselheira, pessoa que estimo pelo conhecimento da literatura, me não iria enganar.
E é assim que a ignorância alimenta a injustiça, pelo que me redimo pela minha atitude. A sua versatilidade provem assim da sua inteligência e ao que parece, dela não fará publicidade.
É uma escrita feminina, com registo de sentimentos fortes –ciúmes, inveja, traição, etc, de um Portugal rico de lendas, de pequenas histórias de encantamentos como a a felidona (igual a lobisomem, na versão feminina), ou a moça-encantada-em-cobra (cobra meia bicho, meia mulher), enfim de um universo em que a fantasia e a realidade se cruzam ao longo do livro. Há três irmãs muito infelizes, uma jornalista regressada de França, um macho garanhão, um doutor apaixonado, uma velha bruxa de cajado de pau de marmeleiro, que se movem numa aldeia alentejana chamada Rio do Anjo, que tal como a Aldeia da Luz, vai ser condenada a ser submersa pelas águas do rio. A Aldeia do Luto será o nome dado ao novo espaço, face à recusa passiva do povo à mudança. Com grande domínio da escrita, a história vai sendo descoberta pelo leitor e à medida que as suas personagens vão falando de si. Depois há aquele anjo que voa com a velha cansada até ao paraíso…

Kivi

Sem comentários: