quinta-feira, setembro 21, 2006

Kafka on the Shore (II) - Haruki Murakami - casa das letras/editorial notícias

Este livro engana muito (best seller com uma data de prémios). Colocam um livro destes em destaque em todas as livrarias com o título “Kafka à Beira Mar” e com um gatinho preto com ar simpático na capa… Parece que vai sair dali uma história bonita sobre gatinhos lindos e com uma moral daquelas que nos faz sentir pessoas melhores.
Mas não! A Pandora tinha razão!
Não é nada disso, é um livro Japonês belo, com uma sonoridade muito própria (não se parece com nada do que eu tenha lido) e com uma temática invulgar.

Se pensar um bocadinho consigo dizer já aqui vinte pessoas que conheço que não podem de maneira nenhuma ler este livro. Poderiam ter pesadelos, indisposições e indigestões. Também é um livro enorme, nunca mais acaba, é muito lento… É necessário ter muita paciência e persistência. Quando começava um novo capítulo eu só pensava “agora é que vai ser, agora é que vai acontecer alguma coisa de interessante”. Só mais para o fim do livro é que começamos a entender todo o sentido. E aí é que talvez valha a pena para quem goste do género. “Qual género?” Nem sei explicar muito bem, não é fácil. Talvez seja sobre o destino, sobre a alma, sobre a passagem da vida e da morte e sobre a intemporalidade.
O livro passa-se com capítulos alternados de duas personagens, um jovem que adora ler e que foge de casa (Kafka) e um velho que devido a um acidente na infância do género “X-Files” fica meio tontinho (Nakata). Mais para o fim do livro percebe-se a ligação entre estas duas personagens. O jovem tem de viver com uma espécie de “maldição” e com um amor impossível e vai ter de encontrar o seu caminho. O velho vai ter de executar uma tarefa importantíssima para que a ordem do universo se restabeleça.

Quando começamos a ler julgamos que é uma história possível de acontecer. Só mais tarde nos apercebemos que é apenas possível de um modo romântico. Há de tudo, gatos que falam, psicopatas e cenas de tortura, parricídio, incesto com todos os membros da família, mistérios militares, sugamento de almas, chuva de osgas, fantasmas, prostitutas que citam Hegel, personagens que simbolizam os desígnios do universo, viagens no tempo, viagens pela morte, e finalmente personagens secundárias também muito interessantes cuja função no universo é ajudar os heróis da história, fazê-los compreender qual o caminho a seguir nas suas vidas tão conturbadas (mas estas coisas sucedem-se num regime muito soft). A história tem um ritmo lento e calmo, cheio de segundos significados. Todos os acontecimentos são descritos de forma a que o leitor seja verdadeiramente envolvido na história, sendo que às vezes quase se sente enganado (não sei explicar muito bem porquê, talvez porque a intensa introspecção das personagens nos transforme em voyers desagradados.)

É um livro interessante, mas o que é certo é que me senti muito aliviada por ter chegado ao final.

1 comentário:

Anónimo disse...

Já me sinto melhor depois de ler o teu post :)