segunda-feira, junho 27, 2005


Elizabet Costello – J.M. Coetzee – Publicações Dom Quixote - Nobel 2003

Ia eu toda lampeira para ler um livro julgava eu sobre os direitos dos animais (somente por obrigação profissional, ah pois), quando me deparo com algo completamente diferente! Nem sei muito bem o que hei-de dizer sobre este romance, se é que possa ser assim classificado.

Temos diversos temas que são dissecados não no sentido de aprendermos mais sobre o assunto, mas no sentido de pensar sobre aquilo em que realmente acreditamos e porquê. Aliás, o livro todo é um debruçar sobre o modo de pensar de alguém que se dedica inteiramente à escrita e ainda da procura desse alguém por todas as justificações possíveis e imaginárias para cada sensação que o mundo real e onírico impõe. Os temas trazidos sob a forma de palestras não são tão interessantes como isso (são apenas perspectivas), mas a forma como são pensados e preparados pela Elizabeth é fascinante. A própria Elizabeth revela-se uma personagem algo antipática, penso que talvez a sua incoerência seja devido a uma fusão Elizabeth-Coetzee.

Para mim o melhor do livro é a capacidade de Coetzee em conseguir descrever determinados raciocínios e sensações que todos já tivemos mas que como não os conseguimos verbalizar e entender racionalmente “esquecemo-nos” facilmente da sua existência. Essa procura da verdade do que sentimos emocionalmente acaba por se traduzir na procura da definição do “Eu”. O último capítulo (que é o meu preferido) descreve todo o suposto processo (kafkiano) da passagem de Elizabeth pelo purgatório e da sua tentativa em descobrir as próprias crenças.

Esta crítica é muito pessoal, uma vez que se calhar nem tenho grandes competências para tratar “Elizabeth Costello” como ele realmente merece. Apesar de reconhecer a presença de um génio da escrita, “Elizabeth Costello” é um livro que vou esquecer facilmente.

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