sábado, junho 05, 2010


a máquina de fazer espanhóis
valter hugo mãe

Foram duas entrevistas ouvidas na rádio em momentos diferentes, que me levaram a ler este livro, já que alguma curiosidade mantinha pelo autor que José Saramago tanto tem elogiado. É um jovem autor que com certeza tem marcado a diferença pela criatividade e pela linguagem que tão bem aproxima o leitor. O livro é uma homenagem ao pai que morreu antes de ter chegado à terceira idade e aspira a dar conhecimento de um passado político e social vivenciado por aquele, mas em parte por si desconhecido. A personagem principal é o Sr. Silva, apelido tão portuguesmente repetido, um octogenário que vê a sua vida mudar repentinamente quando colocado no lar “A Feliz Idade”. É a luta de um homem que quer manter a sua identidade num local onde lhe é roubada a alma, apesar desse local surgir como confortavelmente paternalista. Ele perde a mulher, a sua Laura constantemente evocada com amor, como um quotidiano de rotinas e de conformidades de um barbeiro, que mais não deseja que ser um homem de família. É uma evocação de passados num país vivido na ditadura, de mesquinhez e inveja. É um homem que no seu final faz contas à vida, e que apesar da revolta sentida com a nova realidade vem a encontrar naquele resto de solidão a amizade junto de iguais. O romance é atravessado pela ironia dos diálogos com os outros idosos, mas apesar de alguns elementos de alegria, a situação do Sr. Silva é mesmo trágica, como a de todos aqueles que chegam a este ponto sem retorno. O romance está muito bem estruturado, mas gostaria que o autor recomeçasse a escrever com maiúsculas. Afinal porque as aboliu? Não vale a pena começar uma frase com minúsculas.

Kivi

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