segunda-feira, outubro 05, 2009

Orhan Pamuk

Istambul - Memórias de uma cidade

Foi o interesse de conhecer esta cidade e o imaginário do seu exotismo que me levou à leitura do livro. Mas não é de verdade um livro de viagens , antes de memórias de uma cidade e das percepções que dela ficaram ao longo do crescimento do seu autor. Pamuk remete-nos à nostalgia de uma cidade que foi cruzamento de civilizações e do império otomano perdido com a fundação da república turca em 1919. Vai-nos dando conta da decadência, da descaracterização e do empobrecimento cultural de Istambul, através do olhar sobre a sua infância solitária, sobre o passado familiar, revisitando as imagens e gravuras que ficaram do passado e nos relatos de poetas e escritores solitários istambulenses e europeus (ex.Flaubert). Não são só as marcas do exotismo das casas dos paxás, dos haréns e a transformação da paisagem da cidade e do movimento e vida do Bósforo, mas em especial a reversão da paisagem interior, como o emergente sentimento de tristeza e melancolia entranhado nos seus cidadãos, o designado húzún. O húzúnpassou a ser na literatura a causa escolhida consciente e orgulhosa do insucesso, do fracasso, da indecisão e da pobreza dos seus citadinos, apesar de proporcionar a união e o sentido de comunidade. A transformação de uma cidade que representava outrora a riqueza do Médio Oriente num lugar empobrecido e esgotado na sequência as guerras entre o Ocidente e com a Rússia, fez dos istambulenses uma multidão introvertida e nacionalista e suspeita em relação ao exterior. Esta transformação marca inevitavelmente o autor, cuja introversão o remetem inicialmente para o gosto da pintura -sempre paisagens do Bósforo e só mais tarde para a escrita. A título de curiosidade, Istambul da sua infância tinha um milhão de muçulmanos e não os dez milhões de hoje.

Sem estar em causa a escrita e o interesse pela forma singular como fala da cidade e como ela determinou o seu destino inevitável, achei o livro maçudo.

Kivi

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