domingo, fevereiro 08, 2009


Halldór Laxness - Gente Independente

Não me recordo nos tempos mais próximos de ter demorado tanto para ler um livro sem ter qualquer sentimento de desagrado contra ele. Se calhar teve mesmo que ser assim, porque não saltei nenhuma página e apesar da minha má memória consegui sempre reconstitui-lo. É um romance soberbo, inesquecível, mas que marca pela tristeza da paisagem, pelo frio glaciar que nos contamina, pela humidade dos corpos, pela pobreza. Tem lugar na Islândia, no início do século XX. De acordo com a lenda islandesa, quando os noruegueses ocuparam as terras da Islândia (que eram muito férteis) o feiticeiro islandês Kolumkilli amaldiçoou os novos habitantes, rogando que jamais gozariam de prosperidade.
É um hino à humanidade, à independência e à natureza inclemente e ao trabalho do homem. Trata-se da vida de um agricultor independente, Bjantur das Casas de Verão que escreve rimas e as ensina aos seus filhos e que na sua charneca luta heróica e obstinadamente para ser independente. Ele não confia em ninguém, só nos seus animais (as suas ovelhas valem mais que o Homem). Mas afinal ele trabalha dia e noite no campo do inimigo: primeiro é o diabo que atormenta, Kolumkilli, depois é o poder financeiro que põe os pobres nas suas mãos. Por esta razão é também um romance irónico. Não é por acaso que uma das personagens se refere a que o maior crime consiste em as "autoridades" deixarem os homens viver em vez de os deixarem morrer.
Em 1955 Laxness foi Prémio Nobel e está consagrado na Islândia como uma lenda.

Sem comentários: