quinta-feira, janeiro 10, 2008

A Vida e o Tempo de Michael K - J.M. COETZEE

Vencedor Booker Prize e Prix Étranger Femina

Este livro de J. M Coetzee não nos fala sobre uma história ou sobre um enredo, mas sobre a vida de uma personagem e da sua adaptação a um árido cenário. Michael K é um indivíduo que não está interessado nem compreende o que sucede à sua volta (guerra civil na África do Sul), querendo apenas viver a sua vida em paz e em liberdade. Michael K traçou objectivos simples para a sua vida e para as suas capacidades, como levar a mãe à terra natal e viver do que a terra lhe tem para oferecer. Não quer que cuidem dele apesar de ser doente e frágil, não quer trabalhar para um objectivo incompreensível nem interagir com as outras pessoas. Michael K dispensa a caridade e não quer contar a sua história, apenas quer existir à sua maneira. Ao longo do livro observamos Michael K e temos pena dele (exactamente o que a personagem nunca iria querer), pensamos que alguém o deveria ajudar, que alguém deveria reparar na sua incapacidade para estar num campo de trabalho e no facto de nunca vir a constituir uma ameaça numa guerra alheia. Pensamos que poderiam arranjar-lhe uma casa com uma horta e deixá-lo em paz. Continuamos a observar Michael e o definhamento do seu corpo pela fome e pela doença, mantendo-se sempre a obstinação de chegar a um determinado lugar sem se poder defender. Vemos Michael a ser roubado, enganado e acusado de algo que não fez. Vemos Michael a tentar escapar a todos os locais em que não pode exercer o seu direito de escolha. Quando a personagem é internada porque alguém finalmente repara no seu débil corpo e quando o tratamento e alimentação são disponibilizados, vemos Michael a recusar-se a ser ajudado e a fugir (na incredulidade do médico que o tenta compreender). Michael não é nenhuma personagem especial que mereça particular atenção, é apenas alguém que aspira a liberdade.
O livro é interessante pela ideia que deixa ao leitor e pela escrita de Coetzee, com a sua capacidade em descrever o óbvio da maneira mais simples.

“Eu sou mais parecido com uma minhoca, pensou. Que é também uma espécie de jardineiro. Ou uma toupeira, também um jardineiro, que não conta histórias, porque vive no silêncio. Mas quem encontra uma toupeira ou uma minhoca num chão de cimento?”.

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