sábado, janeiro 13, 2007

The Surrogates
- Robert Venditti & Brett Weldele

Há muito tempo que não lia um livro de banda desenhada tão bom (se calhar é porque não tenho lido muitos), que é simultaneamente um dos melhores livros de ficção científica que li nos últimos tempos. E aposto que dava um óptimo filme. Comprei-o depois de ler a crítica do SF site, que me abriu o apetite.
A história: em 2054, a maior parte da população vive fisicamente dentro de casa, e tem um ou mais surrogates, autómatos com aparência humana, controlados por um sistema de realidade virtual que permite ao utilizador experimentar as sensações correspondentes sem qualquer risco (por exemplo, ter a sensação de fumar sem os malefícios associados), e simplesmente desligar-se do sistema quando estiver numa situação desconfortável. Os benefícios são mais do que evidentes: o crime é praticamente inexistente, as pessoas podem não só ultrapassar deficiências físicas como alterar o seu aspecto, raça, ou mesmo sexo, a seu belo prazer. Os preconceitos são subtilmente contornados: por exemplo, se um empregador se sente desconfortável a contratar uma mulher para um determinado cargo, ela apresenta-se com um surrogate masculino. Nada mais simples.
Mas será que isto resolve os problemas das pessoas, ou apenas lhes permite viver sem os enfrentar? É claro que este é um mundo extremamente artificial, em que as pessoas literalmente deixaram de viver as suas vidas para apenas as "experienciarem" a uma distância segura.
Neste contexto, um misterioso tecnoterrorista começa a destruir sistematicamente surrogates. Este caso poderá estar ou não relacionado com os Dreads, uma pequena parte da população que é contra os surrogates por motivos religiosos. O livro é a história da investigação que se segue, conduzida por Greer, um polícia de meia-idade infeliz, cuja mulher há vários anos se recusa a mostrar-se em carne e osso, por não ser capaz de enfrentar o envelhecimento.
Como geralmente acontece com a boa ficção científica, há muitos paralelos com a direcção que a nossa própria sociedade parece estar a tomar. Assim de repente, ocorrem-me as operações plásticas, o culto da aparência, as pessoas que só têm interacções “sociais” através da internet, e o caso extremo do hikikomori, os adolescentes japoneses que simplesmente se fecham no quarto e recusam qualquer contacto social. Realmente viver é difícil, cansativo, e arriscado, e muitas vezes a tecnologia facilita um certo distanciamento da realidade. Mas se calhar, e apesar das partes más, chatas, e desconfortáveis, viver é mais interessante do que qualquer realidade virtual.
Quanto ao livro, não é muito fácil de encontrar; o melhor é procurá-lo nas livrarias especializadas em BD, como a Mundo Fantasma.

Sem comentários: