quinta-feira, dezembro 08, 2005


Lunar Park - Bret Easton Ellis - Editorial Teorema

Quando me embrenhei neste livro, um tanto ou quanto contrariada, estava curiosa em como Bret teria evoluido depois das histórias fúteis do mundo de drogas, ricos e orgias dos seus livros do género "Menos que Zero" ou "As Regras da Atracção" (adaptados para cinema, tendo o último dado algum protagonismo a Katie Holmes) ou do escabroso violento/sádico mas no fundo interessante "Psicopata Americano" (com Christian Bale, o novo Batman e antigo menino do "Império do Sol").
Inicialmente, o escritor leva-nos a pensar que o livro é autobiográfico, até porque as personagens principais são ele próprio (Bret), a sua esposa (actriz supostamente famosa e ex-namorada de Keanu Reeves) e seus reais filhos. Qualquer leitor começa a enervar-se profundamente ao pensar no que terá levado a comprar um livro destes e a contribuir para a fortuna dum escritor que não vale nada enquanto pessoa. Quanto às suas capacidades literárias pode-se supôr que apenas teve a sorte de estar no lugar certo na altura certa ao ter a oportunidade de ser um dos primeiros a expôr a futilidade de uma geração sem valores morais, sociais, sem capacidade de planeamento futuro e completamente viciada em cocaína, heroína, xanax, vodka, konoplin, etc etc etc.
Entramos lentamente em contacto com um mundo completamente fútil das celebridades, dando vontade de mandar esterilizar aquela gente para evitar que tenham mais filhos, uma vez que não passam de zombies infelizes que aos 8 anos já estão diagnosticados com uma panóplia de perturbações psiquiátricas gravíssimas, andando tão pedrados como os pais. Até o cão deles anda medicado para a ansiedade.
Bret expõe cruelmente esse mundo, criticando-se de certo modo uma vez que a ele pertence (mesmo sendo e fazendo por ser odiado) e auto-censurando-se pelos fantasmas e perturbações passadas mal resolvidas, que acabam por se materializar e dar corpo a episódios bastante imaginativos e supostamente aterrorizadores.
O melhor do livro escontra-se na auto-exploração da sua personalidade (que se divide entre o "Bret escritor", o "Bret real", o "Bret pedrado", o "Bret-será-que-estou-a-alucinar" e finalmente o "Bret-gostava-de-tentar-uma-família") e na evocação dos fantasmas passados incluindo o reaparecimento de Patrick Bateman, a personagem central do "Psicopata Americano". No fim acaba por se tornar um livro interessante, dando-nos uma perspectiva de uma família disfuncional em que todos se afastam da realidade em procura da "terra do nunca mais". É um livro com piada mas não é essencial e não traz nada de novo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo com a apreciação feita, é um autor e um livro lunático que estará na moda pela sua extravagância e só possível numa América da abundância(que é a sua), da futilidade que inventa problemas quando se tem os aspectos básicos resolvidos, mas é por isso mesmo que ele, Bret nos atrai porque nos introduz neste universo neurótico de uma forma inventiva fazendo-nos confundir entre o que é a realidade e o que é ficção. É um livro imaginativo que fala das preocupações banais das pessoas que pensamos não ser banais e das dificuldades em se relacionarem afectivamente e por isso nos atira para aspectos da sua autobiografia. Parece assim um puzzle, serão retalhos da sua infância, das perdas, dos medos, das desilusões, dos seus fantasmas que exorciza através das personagens irreais que cria e que nos confundem porque serão o seu alter ego e que também desaparecem sem deixar rasto para a “terra do nunca mais” para onde foram o filho e as outras crianças nos confins de Lunar Park, não será nesse espaço ingénuo e protegido que ele se coloca? É certo que gostamos do Bret porque ele é frágil . Kivi