segunda-feira, dezembro 24, 2007

Os Melhores de 2007 - Segundo o Público
(Ípsilon - Sexta-feira 21 de Dezembro 2007)

1 - Uma Grande Razão: os Poemas Maiores - Mário Cesariny (Assírio & Alvim)

Vários livros desta lista, incluindo o primeiro lugar, são poesia. Nada contra, mas a poesia é sempre uma escolha muito pessoal. Eu por exemplo escolheria a recente edição dos Sonetos a Orfeu e Elegias de Duíno, de Rainer Maria Rilke, traduzidos por Vasco Graça Moura (Bertrand), mas é uma escolha igualmente pessoal.

2 - Pais e Filhos - Ivan Turgeniev (Relógio d'Água)

Nunca ouvi falar, mas pareceu-me interessante, talvez vá investigar mais.

3 - A Modernidade - Walter Benjamin (Assírio & Alvim)

Também não li, mas parece-me uma boa escolha. Um livro que também me parece interessante sobre o tema do modernismo é The Lure of Heresy, de Peter Gay (crítica do Los Angeles Times)

4 - Memórias - Raymond Aron (Guerra & Paz)

Não me interessa particularmente.

5 - A Morte de Theo Van Gogh - Ian Buruma
(Presença)

Este recomendo o mais possível. É um livro que consegue abordar as questões do terrorismo, dos imigrantes muçulmanos não integrados nas sociedades europeias, do fanatismo religioso, tudo isto sem ser panfletário, sem falsos moralismos, e sem demasiadas vénias ao "relativismo cultural". É uma espécie de grande reportagem sobre o assassinato de um polémico realizador de cinema holandês, por um fanático islâmico. Ao longo do livro vamos conhecendo várias personagens, desde o próprio Theo Van Gogh (nada simpático), até Ayaan Hirsi Ali (cuja biografia Uma Mulher Rebelde se encontra igualmente editada pela Presença), passando por muitos outros. Um livro importante e que se lê rapidamente.

6 - Na Praia de Chesil - Ian McEwan (Gradiva)

Parece-me ser um livro bom, mas ainda não o li porque acho que deve ser muito deprimente. É sobre um casal que se separa logo na noite de núpcias, por uma série de mal-entendidos.

7 - A Estrada - Cormac McCarthy (Relógio d'Agua)

Segundo o público, dava um bom filme. Vou esperar pelo filme.

8 - Metamorfoses - Ovídio (Cotovia)

Desta lista, este era o que eu mais gostava de encontrar no sapatinho. Quase todas as histórias da mitologia grega e romana chegaram até nós através desta obra de Ovídio. Se o Pai Natal não mo trouxer, lá vou ter eu que o comprar...

9 - Tudo o Que Sobe Deve Convergir - Flannery O'Connor (Cavalo de Ferro)

A primeira mulher da lista! (Aparecem apenas 3, numa lista que me parece ser demasiado masculina. Então e a Doris Lessing, que acabou de ganhar o Nobel? E a Zadie Smith, de quem acabou de sair em Portugal Uma Questão de Beleza?) Mas não é por isso que me dá grande vontade de o ler. Neste momento não me apetece nada ler sobre o racismo no Sul dos Estados Unidos. Talvez noutra altura.

10 ex-aequo As Benevolentes - Jonathan Littell (Dom Quixote)

Este saiu há pouco, por isso suspeito que ainda vai ser muito falado. Não me apetece lê-lo não só por ser muito grande (para grandes épicos, prefiro os antigos), mas também porque não estou com vontade de ler um livro enorme sobre o Holocausto (por muito relevante que seja).

10 ex-aequo Século Passado - Jorge Silva Melo (Cotovia)

Isto não me interessa mesmo nada.

12 - O Que Foi Passado a Limpo. Obra Poética (1965 - 2005) - Armando Silva Carvalho (Assírio & Alvim)

Mais poesia. Só experimentando.

13 - Colecção da Obra Essencial de Pessoa - edição de Richard Zenith (Assírio & Alvim)

Seria impossível não considerar esta uma edição essencial de 2007.

14 - Todo-o-Mundo - Philip Roth (Dom Quixote)

É um óptimo livro, já recomendado neste blog. Só tenho uma coisa a apontar: era desnecessário dar-lhe um título em português do Brasil. Quanto ao resto da tradução não sei, porque li apenas o original, mas acho péssima a escolha do título. Não será fácil arranjar uma tradução para Everyman, e compreendo que hipóteses como "Todos os homens" ou "Qualquer homem" pudessem ser descartadas por questões de inclusão de ambos os sexos, mas de certeza que havia outras opções. "O Homem", por exemplo. Sei lá. Mas enfim, deve ser para nos começarem a habituar ao ridículo acordo ortográfico que aí vem.

15 - Poesia 1963/1995 - Vasco Graça Moura (Quetzal)

Mais poesia. Nada a dizer.

16 - Aprender a Rezar na Era da Técnica - Gonçalo M. Tavares (Caminho)

Fiquei com curiosidade de ler alguma coisa deste autor.

17 - Shakespeare, Uma Biografia - Peter Acroyd (Teorema)

De uma maneira geral, as biografias não me despertam qualquer interesse. Esta não é excepção.

18 - Orlando Furioso - Ludovico Ariosto (Cavalo de Ferro)

Deve ter o seu interesse, mas dentro dos épicos medievais acho que prefiro o Beowulf (vou a meio). Tem muito mais piada e envolve um dragão. Recomendo a versão em inglês moderno, que mantém uma agradável musicalidade baseada na aliteração de duas a três consoantes em locais específicos de cada verso.
Ah, e não recomendo mesmo nada o filme, apesar das 3 dimensões continua a ser uma porcaria. O monstro é nojento, as personagens são previsíveis até à exaustão, a mãe de Grendel é uma fantasia hollywoodesca com pés em forma de sapatos de salto, e a única coisa vagamente interessante é o dragão.

19 - A Rússia de Putin - Anna Politkovskaia (Pedra da Lua)

Deve ser importante, ou ela não teria sido assassinada. Dito isto, não me apetece ler o livro.

20 ex-aequo Personas Sexuais - Camille Paglia (Relógio d'Água)

"uma obra provocadora e perturbadora sobre arte e decadência na cultura ocidental, da pré-história à pop". Hmm... nesse tempo todo não deve ter sido só decadência. Digo eu.

20 ex-aequo Gente Independente - Halldór Laxness (Cavalo de Ferro)

É capaz de ser bom. Passa-se na Islândia e pela descrição parece-me muito interessante.
Não é que tenha nada a ver, mas acabei de ler um livro de um escritor nórdico, Lars Saabye Christensen - Beatles - também editado pela Cavalo de Ferro, e adorei. É um livro sobre o crescimento, a adolescência, as primeiras desilusões, o sentimento de nos encontrarmos perdidos no mundo; mas também, os amigos, as primeiras namoradas, o amor, o futuro ainda por abrir.

20 ex-aequo Balada para Sérgio Varela Cid - Joel Costa (Casa das Letras)

Tem a ver com o "mundo português da música erudita". Whatever.

20 ex-aequo Como Falar dos Livros que Não Lemos? - Pierre Bayard (Verso da Kapa)

Para finalizar, um livro que pode ser considerado hipócrita, ou irónico, dependendo do ponto de vista. A mim parece-me um bocadinho parvo. Qual é o interesse de fingir ter lido livros que na realidade não se leu? Deve ter interesse, sem dúvida, para quem se move em círculos pseudo-intelectuais para os quais é requisito essencial ter lido uma série de obras consideradas essenciais mas que na realidade não houve tempo, nem pachorra, para ler. Ora talvez nesses casos seja mais eficaz: a) mudar de círculo de amigos, ou b) mudar de assunto e começar a falar de música, política ou qualquer outro assunto. Ou ainda melhor, falar sobre livros possivelmente menos elitistas mas que lemos realmente, e que podem ter enorme relevância para determinado assunto.
Porque a piada dos livros não é falar sobre eles (OK, também tem alguma piada), é principalmente lê-los. Imergir totalmente em mundos, personagens, situações e ideias diferentes. Acabar um livro e sentirmo-nos uma pessoa diferente. Isso é uma experiência profundamente pessoal. Para Proust, ler era melhor que uma conversa com o autor, era "receber uma comunicação com uma outra forma de pensar, mas permanecendo sozinho, ou seja, continuando a usufruir da capacidade intelectual que temos quando sozinhos e que a conversa dissipa imediatamente" (citação retirada do artigo "Twilight of the Books", do New York Times).

Feliz Natal e Boas Leituras!

1 comentário:

Noname disse...

Tens de me emprestar o "Beatles"!! Estou quase a desistir do "Eternidade e o Desejo" da Inês Pedrosa, um bom livro para quem tem tempo para digestões longas... Acho que vou saltar para o Ian McWean... :S