A Mancha Humana - Philip Roth - Dom Quixote
A Mancha Humana é um romance intenso e brilhante que narra a existência de um ano de vida de um professor universitário de literatura clássica, Coleman Silk (o mais branco de todos os brancos), que rompe com os moldes que a sua própria comunidade lhe impõe, para mostrar como um individuo apaga o seu passado e a própria identidade, reivindicando o supremo do individualismo, bandeira que caracterizou os Estados Unidos como terra promissora. O contexto é essa América multicultural que em nome do sonho americano e graças à potencialização das diferentes particularidades existentes, criou múltiplas sociedades dentro da própria sociedade e com diferentes formas de entender a existência. Assim o designado multiculturalismo americano, uma ideia inicial boa, converteu-a numa sociedade fechada, onde cada um só pode sobreviver dentro do grupo a que está destinado. Espera-se assim que Coleman Silk tenha determinado padrão de conduta, assim como as outras três personagens principais. Todos constroem a sua existência em segredos , mas por mais que se purifiquem a mancha humana funciona como uma sombra nos seus destinos. É um retrato cru da América da hipocrisia, da mentira e do puritanismo, por isso como pano de fundo estão as revelações da vida pessoal do presidente Clinton. E temos a personagem para mim mais reveladora, Faunia (a cena da dança com Coleman é divina), que apesar da inutilidade irreversível da sua vida, do caos e da falta de esperança, no seu panteísmo ela é o mundo.
Kivi